09/15/2025 | Press release | Distributed by Public on 09/15/2025 14:20
77% dos países não possuem estratégias nacionais para prevenir o afogamento, uma causa de morte que afeta especialmente crianças menores de 5 anos e adultos acima de 70.
Washington, D.C., 15 de setembro de 2025 (OPAS) - O afogamento continua sendo uma crise de saúde pública significativa e em grande parte negligenciada nas Américas, de acordo com estudo da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que revela que 77% dos países não contam com estratégias nacionais de prevenção. Os dados coletados em 26 países entre 2023 e 2024 ressaltam a necessidade urgente de agir diante dessa causa evitável de morte na região.
Somente em 2021, mais de 17 mil pessoas morreram por essa causa nas Américas, representando aproximadamente 6% das mortes por afogamento no mundo. Embora a taxa de mortalidade regional seja mais baixa que a média global (1,6 contra 3,8 por 100 mil pessoas), o relatório destaca que a mortalidade é excessivamente alta entre os grupos mais vulneráveis, como crianças menores de 5 anos e adultos acima de 70.
Apesar desses desafios, há avanços em vários países da região. Mais de 70% relataram dispor de sistemas de alerta precoce diante de desastres e programas de busca e salvamento, além de um número crescente de campanhas públicas sobre segurança aquática e supervisão infantil. Além disso, 92% dos países indicaram ter regulamentações para a segurança no transporte aquático de passageiros, ainda que com diferenças em seu alcance. Esses progressos demonstram o potencial de intervenções multissetoriais para salvar vidas.
"O afogamento é uma tragédia que pode ser prevenida", destacou Anselm Hennis, diretor do Departamento de Doenças Não Transmissíveis e Saúde Mental da OPAS. "Este novo relatório oferece informações valiosas que nos permitem compreender os avanços, identificar as lacunas e orientar intervenções que salvam vidas. O compromisso multissetorial e o fortalecimento da governança nacional são essenciais para avançar na prevenção do afogamento em nossa região."
Um dos principais achados do relatório é a escassez de mecanismos de governança nacional para a prevenção do afogamento. Apenas 11 países (42%) informaram contar com um ponto focal governamental designado para a coordenação, e somente 8% relataram ter estratégias nacionais lideradas pelo governo.
Embora diversos setores, incluindo saúde, segurança marítima, polícia, gestão de risco de desastres, associações de salvamento e organizações não governamentais, estejam implementando ativamente medidas de prevenção, seus esforços são dificultados pela falta de coordenação. Apenas 27% dos países declararam dispor de mecanismos formais de articulação entre atores governamentais e não governamentais para promover maior eficácia em suas ações.
A coleta de dados também continua sendo um grande desafio para compreender a magnitude do problema. Nesse sentido, apenas 65% dos países informaram registrar mortes por afogamento por meio de seus sistemas de registro civil e estatísticas vitais. Essa capacidade limitada de monitoramento dificulta a identificação dos fatores de risco mais comuns e das populações mais afetadas.
A análise também identificou lacunas importantes nos marcos regulatórios da região. Apenas nove países possuem leis que exigem o cercamento de piscinas, uma medida comprovadamente eficaz para reduzir o risco de afogamento em crianças, e a maioria não regula as piscinas privadas. Além disso, somente 8% dos países incorporaram aulas de natação e segurança aquática nos currículos escolares em nível nacional.
Embora existam normas para o transporte aquático, menos de 10% das leis revisadas exigem o uso obrigatório de coletes salva-vidas, uma medida essencial para prevenir mortes em caso de acidente. Também foram identificadas falhas relacionadas à venda e ao consumo de álcool em áreas próximas a corpos d'água.
As ações voltadas especificamente para a prevenção de afogamentos infantis ainda são limitadas. Apenas 23% dos países promovem barreiras físicas para restringir o acesso das crianças pequenas à água, e somente 15% oferecem programas de cuidado infantil supervisionado.
Em nível global, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a implementação em larga escala de duas intervenções-chave, serviços de cuidado infantil em idade pré-escolar e aulas básicas de natação nas escolas, poderia prevenir até 774 mil mortes por afogamento e quase um milhão de casos não fatais até 2050. Esse investimento deve gerar um retorno econômico e social substancial, com aproximadamente nove dólares de benefício para cada dólar investido.
A análise, produzida como parte do primeiro Relatório Global de Situação sobre a Prevenção de Afogamentos da OMS, oferece uma visão detalhada dos avanços e lacunas na Região das Américas. Os achados ressaltam que a prevenção de afogamentos exige ação coordenada, colaborativa e multissetorial. Com compromisso sustentado, maior investimento e estratégias baseadas em evidências, é possível salvar milhares de vidas, especialmente entre os grupos mais vulneráveis.