OPAS destaca projetos inovadores impulsionados pelos seus Fundos Rotatórios Regionais durante o 62º Conselho Diretor

Washington, D.C., 30 de setembro de 2025 (OPAS) - A produção regional de vacinas, o uso de kits moleculares para diagnóstico do câncer cervical e estratégias de telemedicina para alcançar áreas rurais estão entre as inovações apresentadas por especialistas em uma sessão informativa intitulada "Avanços no Uso Inovador dos Fundos Rotatórios Regionais (FRR)", realizada durante o 62º Conselho Diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

O evento, realizado na sede da OPAS, em Washington, D.C, nos Estados Unidos, reuniu autoridades de saúde de alto nível e especialistas regionais para demonstrar como os Fundos Rotatórios Regionais - mecanismos regionais de compras agrupadas de vacinas, medicamentos e tecnologias relacionadas - estão impulsionando iniciativas que transformam ativamente o acesso a tecnologias em saúde nas Américas. Essas iniciativas pioneiras refletem a evolução do programa dos Fundos Rotatórios Regionais, assim como o mandato da OPAS de responder às necessidades emergentes dos Estados-Membros.

"A pandemia nos lembrou da nossa dependência das cadeias globais de suprimento e, ao mesmo tempo, estamos testemunhando um ritmo acelerado de inovação e a chegada de novas tecnologias - muitas vezes altamente eficazes, mas também muito caras - o que pressiona significativamente os orçamentos nacionais", disse Jarbas Barbosa, diretor da OPAS, durante o evento.

Neste ano, a OPAS disponibilizou produtos de ponta, como as vacinas HPV9 e PCV20, mais de 30 tratamentos para câncer pediátrico, além de medicamentos para câncer de mama, próstata e doenças raras.

"Essas adições trazem as tecnologias mais recentes para nossa região mais rapidamente, com condições que as tornam sustentáveis. As demandas dos Estados-Membros estão mudando, e nossos Fundos Rotatórios devem evoluir igualmente rápido", afirmou Jarbas Barbosa.

A sessão contou com um painel moderado por Javier Guzmán, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e apresentou quatro casos emblemáticos que demonstram novas prioridades no acesso às tecnologias de saúde na região:

Produção regional de vacinas

A vice-ministra da Saúde da Argentina, Cecilia Loccisano, compartilhou a experiência de seu país com a produção regional de vacinas, incluindo a vacina PCV-20, que protege contra a doença pneumocócica e pode causar infecções graves como pneumonia e meningite, entre outras.

"A transferência de produção de uma planta farmacêutica na Europa para a Argentina envolve um investimento privado de US$ 20 milhões, com expectativa de receita superior a US$ 1 bilhão na próxima década. Isso só é possível com o apoio da OPAS na distribuição de vacinas nas Américas", disse ela.

Este marco é o primeiro do tipo e foi viabilizado com apoio técnico dos Fundos Rotatórios Regionais da OPAS. Loccisano explicou que em breve a Argentina, junto com outros países da região, assinará o primeiro acordo regional para produzir vacinas contra a influenza com potencial pandêmico.

Loccisano também explicou que os Fundos Rotatórios Regionais da OPAS devem economizar mais de US$ 2 milhões para o governo argentino na administração de terapia antirretroviral para pessoas vivendo com HIV no próximo ano.

"Com o dinheiro economizado, pudemos responder rapidamente ao surto de sarampo. Produzimos mais de 900 mil doses adicionais da vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) para controlar os surtos de sarampo onde ocorrem", disse Loccisano.

Eliminação do câncer de colo do útero

Kamaria De Castro, diretora médica de Antigua e Barbuda, apresentou uma estratégia abrangente para eliminação do câncer de colo do útero no pequeno país insular. A estratégia foca no diagnóstico e no uso de kits moleculares, adquiridos graças aos Fundos Rotatórios Regionais.

Antigua e Barbuda tem uma população de 110 mil habitantes, recursos limitados para investir em saúde pública e um número restrito de profissionais de saúde. Além disso, a geografia insular, as distâncias, as taxas de transporte internacional e a limitada concorrência logística local elevam os custos de entrega, frequentemente acima do custo dos próprios insumos médicos.

Apesar disso, em 2021, o governo implementou um programa piloto da vacina HPV, que incluía vacinas e testes para crianças. Nos últimos dois anos, o país recebeu 3 mil doses da vacina HPV e 4 mil kits de teste. Em 2024, o Ministério da Saúde realizou testes de HPV em 2 mil mulheres nas ilhas.

"Tudo isso foi possível graças à nossa parceria com os Fundos Rotatórios Regionais da OPAS, que proporcionaram alavancagem para um país pequeno que enfrenta sérios desafios em aquisições", disse ela.

Redução dos custos de intervenções de saúde de alto preço

No Brasil, uma iniciativa de medicamentos de alto custo tem concentrado sua atenção em tratamentos contra câncer e doenças raras. Essas terapias, embora prioritárias em nível nacional e regional, costumam estar fora do alcance financeiro de famílias de baixa renda e comunidades desassistidas. Marise Ribeiro Nogueira, do gabinete de Assessoramento Especial para Assuntos Internacionais do Brasil, enfatizou que a capacidade de aquisição em larga escala pode ajudar a expandir o acesso a esses medicamentos em toda a América Latina. Nos primeiros estágios da iniciativa, os Fundos Rotatórios Regionais já conseguiram reduções de preços entre 60% e 90% para terapias especializadas relacionadas a oncologia.

"O Brasil, ao contrário de alguns países menores, como Antigua e Barbuda, tem uma população de 200 milhões, um mercado forte e facilidade de negociação. Mas isso não significa que as táticas de negociação conjunta não sejam importantes e cruciais para políticas públicas nacionais de acesso a medicamentos e vacinas", afirmou Ribeiro Nogueira.

Expansão de iniciativas de telemedicina

O vice-ministro de Saúde Pública do Peru, Eric Peña Sánchez, apresentou o projeto de telessaúde do país, que permitiu a entrega de equipamentos de diagnóstico, como eletrocardiógrafos e medidores de pressão arterial em áreas remotas.

O Peru adquiriu 63 mamógrafos digitais, permitindo ao Ministério da Saúde ampliar a cobertura de mamografia em 25 regiões rurais. O isolamento geográfico é uma das principais causas de mortalidade por câncer de mama, já que muitas mulheres são diagnosticadas em estágios avançados da doença.

Combinando estratégias de telessaúde com mamografias digitais, o Ministério da Saúde reduziu o tempo de diagnóstico de vários meses para apenas cinco dias.

"Após a pandemia, discutimos e revisamos a estratégia de telessaúde e aprendemos que, ao abordar a barreira da geografia e as lacunas de recursos humanos, podemos levar a atenção primária em saúde a pessoas que vivem em locais de difícil acesso", disse Peña Sánchez.

Os dispositivos de telessaúde agora fazem parte do portfólio dos Fundos Rotatórios Regionais. Aproveitando esse impulso, a OPAS continua a incentivar seus Estados-Membros a desenvolver e fortalecer estratégias de telemedicina.

A sessão também incluiu uma atualização em vídeo sobre a digitalização dos processos dos Fundos Rotatórios Regionais, destacando melhorias na experiência do usuário, eficiência e transparência por meio do portal dos Estados-Membros.

As experiências dos quatro países destacam a rápida adoção de abordagens inovadoras para expandir o acesso às tecnologias de saúde na região. Com base nessas prioridades, a OPAS - por meio dos Fundos Rotatórios Regionais - busca aplicar lições deixadas pela pandemia de COVID-19, enfrentar desafios emergentes, fortalecer a resiliência e promover maior autonomia na região.

"Os Fundos Rotatórios Regionais estão continuamente se adaptando para atender às necessidades dos Estados-Membros da OPAS. Por meio da inovação - envolvendo acordos regionais, acesso a novas tecnologias e respostas rápidas -, fortalecemos a solidariedade e promovemos saúde para todas as pessoas nas Américas", disse Santiago Cornejo, gerente executivo dos Fundos Rotatórios Regionais da OPAS.