09/02/2025 | Press release | Distributed by Public on 09/02/2025 09:56
A Marinha do Brasil (MB) e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) iniciaram uma etapa importante em prol do setor nuclear do País. O reator de pesquisa IEA-R1 passou a operar em regime contínuo, em turnos de revezamento conduzidos por militares da Força Naval e técnicos do Ipen, voltados à produção inicial de radioisótopos.
O foco inicial é o Lutécio-177, radioisótopo utilizado na marcação de moléculas específicas de alto valor terapêutico, considerado referência no tratamento de tumores neuroendócrinos e no combate ao câncer de próstata.
O diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, almirante de Esquadra Alexandre Rabello de Faria, ressaltou a importância da formação dos militares:
Esse processo de qualificação é muito especial para o Programa Nuclear da Marinha. A gente fica feliz porque é um processo difícil e eles conseguiram. Isso demonstra que nosso pessoal tem potencial e muita capacidade. Essa formação vai ao encontro da natureza da profissão militar, que é servir. Esses militares estão servindo e prestando um serviço para produzir o bem, colaborando com a produção de radiofármacos e com sua entrega ao serviço de saúde", afirmou o almirante de Esquadra Rabello.
O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Francisco Rondinelli Junior, destacou que a iniciativa simboliza um marco de cooperação institucional e de entrega direta à sociedade.
Este momento entrega para a sociedade profissionais capacitados, capazes de explorar o potencial da área nuclear em termos de aplicações, desenvolvimento e saúde. A utilização na medicina é apenas um dos exemplos, mas o alcance é muito maior. É, sem dúvida, um momento de muita satisfação e de celebração, fruto de uma parceria que deve continuar por muito tempo", afirmou o presidente da Cnen.
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As primeiras amostras de Lutécio-177 foram marcadas com PSMA (Antígeno de Membrana Específico da Próstata) na Radiofarmácia do Ipen, e os resultados obtidos foram satisfatórios. A divulgação ocorreu na sexta-feira, 29 de agosto, data em que o Instituto celebrou 69 anos de fundação, oficialmente completados em 31 de agosto.
Com a validação confirmada, o IEA-R1 passou a produzir oficialmente o radioisótopo, possibilitando sua transformação em radiofármacos capazes de atender, futuramente, parte da demanda nacional.
A coordenadora do Centro de Radiofarmácia do Ipen, Elaine Bortoleti, destacou que a operação contínua do reator representa um marco após mais de uma década.
Já fazia mais de dez anos que o reator não operava de forma contínua. Essa retomada possibilita a produção de amostras de material radioativo que servem como matéria-prima essencial para a fabricação de radiofármacos utilizados na medicina nuclear. Produzir localmente traz autonomia, já que hoje praticamente quase tudo precisa ser importado", disse a coordenadora.
Mesmo sendo ainda uma produção experimental e em pequenas quantidades, é um primeiro passo muito importante, que abre expectativa de crescimento e de atender parte da nossa demanda por esses insumos fundamentais para a saúde", explicou a coordenadora do Centro de Radiofarmácia Elaine.
A conquista representa mais do que um avanço tecnológico: trata-se de um esforço compartilhado para reduzir a dependência externa na área da saúde. Apenas em 2023 e 2024, o Brasil importou cerca de 50 milhões de dólares em radioisótopos como Molibdênio-99, Iodo-131 e o próprio Lutécio-177.
A produção em grande escala tem potencial para gerar economia anual significativa, reforçar a soberania científica e tecnológica e ampliar o acesso da população a terapias nucleares avançadas.
O coordenador do contrato de parceria, designado pela Marinha, capitão de Mar e Guerra Enéas Tadeu Fernandes Ervilha, e o gerente do reator, Frederico Genezini, destacaram que os avanços obtidos resultam da cooperação entre a Marinha e o Ipen. O progresso decorre do Acordo de Parceria para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, firmado entre o CTMSP e o Ipen/Cnen, cujo objetivo é capacitar operadores de reator nuclear e fomentar a pesquisa aplicada à produção de radioisótopos.
O Comandante Enéas frisou, ainda, que a experiência dos operadores atende a parte dos requisitos de qualificação técnica nuclear exigidos aos futuros candidatos a operadores do Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (LabGene).
O desempenho dos militares da Marinha foi expressivo. Em 2023, quatro operadores sênior e seis operadores de reator foram licenciados pela Cnen; em 2024, outros nove conquistaram a habilitação. Neste ano, um supervisor e quatro técnicos de proteção radiológica já foram credenciados, enquanto cinco candidatos aprovados na prova escrita aguardam a avaliação prático-oral marcada para setembro.
Os militares da Marinha alcançaram 100% de aprovação nos processos de licenciamento da Cnen. Esse resultado permitiu a formação de equipes de turno compostas por operadores da Força Naval e do Ipen, altamente qualificadas e em número suficiente para viabilizar o início da operação destinada à produção do Lutécio-177.
Para o coordenador do programa de treinamento, José Roberto Berretta, a formação do Ipen é fundamental para preparar operadores de reatores. Ele destaca que a estratégia do curso é compartilhar ao máximo as informações sobre a instalação, proporcionando um aprendizado prático e aprofundado. O professor Berretta também ressalta que um bom operador de reator deve ter um conhecimento amplo de diferentes reatores, e não se limitar a apenas um. Essa abordagem, segundo ele, eleva os padrões de segurança operacional.
Desde o início de agosto, a operação em regime contínuo, com turnos de vinte e quatro horas tem sido conduzida por equipes da Marinha e do Ipen. Após a obtenção da licença, os militares passaram a integrar oficialmente a rotina operacional do reator.
O Grupo de Proteção Radiológica é essencial para garantir que a operação em turnos ocorra com total segurança, tanto para o reator quanto para as equipes envolvidas. O trabalho assegura que cada etapa da produção do Lutécio-177 seja conduzida dentro dos mais rigorosos padrões de proteção radiológica e segurança nuclear.
Com a validação concluída, a Marinha e o Ipen iniciaram a produção nacional de Lutécio-177, insumo essencial no tratamento do câncer. A iniciativa reduz a dependência de importações e amplia a oferta de radiofármacos, fundamentais para pacientes em todo o País.